Pelo apito, a água do chá está pronta!
A infusão de hibisco e hortelã descansa o tempo certo.
À mesa, uma xícara para fazer a cerimônia minimalista;
na borda do pires, um biscoito amanteigado –
doce o suficiente para tirar o desgosto
e o gosto do pó da terra.
Ouve-se o som da colher a bater na borda da xícara
em dissonante com a algazarra das maritacas na mangueira.
O amanteigado acaba numa única bocada.
A xícara, quente pela água, ainda repousa cheia.
O dia de verão não combina com o chá,
assim como o tango não anima o carnaval.
Alguém acende uma luz do outro lado da rua.
As pupilas respiram o primeiro sinal de Vésper
enquanto eu procuro saber notícias de mim.
Alma-cofre, escondo abismos e minotauros,
presságios e fontes, fantasmas e clarins;
e nada se revela no fundo da xícara de chá.
