A metade e meia
22 de março de 2019
Sou fluente no silêncio;
um vício que cultivo desde que vivo
para poder abraçar o tempo:
há muitos dias encalacrados em mim.
As palavras, desnecessárias e lentas,
tornam-me num deserto de imagens
e não conseguem traduzir
nem meia metade do que sou.
A outra metade e meia, afogada,
eu mesmo não sei se me afloraria
e, constato, não tenho coragem de saber.
Sigo, assim, taciturno fluente,
com essa insólita liberdade para não dizer
o que deveras finjo ou sinto.