Num domingo de manhã, as últimas brisas
quentes de verão encanam-se pelas ruas estreitas.
Estreitas e desertas de vida e automóveis.
Eu engulo aquele lufo morno enquanto caminho só.
O sino dobra, esgoelando-se num único tom,
e quebra a monotonia do silêncio;
bate pontual como um despertador,
alertando-me para a missa que está para começar.
Mesmo assim, passo incólume pela porta da igreja.
Não olho para a porta aberta, não por decisão:
minha cabeça, pesada de pensamentos e palavras,
não quer se mover.
Não me sinto convidado a entrar – não pelo som do sino!
Nem me suponho merecedor do convite.
(Se é que houve algum… algum dia.
Se é que haveria necessidade de um.)
Sigo o meu caminho enquanto penso em Jó,
seu silêncio frente às perguntas, Beemote e Leviatã.
A fé é uma escolha e mistério
e já me arrebatara antes daquele sino despertar.
Passo incólume pela porta da igreja
e minha ignorância não tem nenhuma importância
para quem está lá dentro.
Nem meu conhecimento para quem está aqui fora:
A fé é bastante.
